quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Os primeiros sons...

por Jô Fornari, atriz


O que se espera de uma oficina de voz? Que se trabalhe a voz (óbvio!). Porem, com a oficina que Barbara Biscaro ministrou aqui, nos deparamos com uma proposta um tanto inusitada (mesmo estando previamente alertados). Uma oficina que propunha uma união completa entre voz e corpo. Claro, afinal não são os dois a mesma coisa? Um não está inserido no outro?

Assim, iniciamos trabalhando a partir da movimentação corporal: aquecendo músculos, acionando órgãos adormecidos, liberando energia, explorando o corpo em sua totalidade para descobrir sons, acessar vibrações para, então, conseguir potencializar esse órgão, quase abstrato, porem muito concreto, que é o aparelho fonador, o disparador da voz.

Muito alongamento, muito exercício energético, para explorar o som que sai de nosso corpo, aprendendo a conduzí-lo para poder expandir, sair dele.

Criamos partituras físicas individuais, apoiadas em dinâmicas de peso, leveza, ritmo, intensidade, para em seguida acrescentar sons, fala, grunhidos, gemidos, latidos, agudos, graves, sons que podemos criar a partir de nosso corpo. Mas, de onde vem o som? Que partes do corpo tem de ser exercitadas para produzí-lo? Como conduzi-lo? Onde vibrar? Como não machucar as pregas vocais? Cada movimento físico gerava tons diferenciados. Tipos de timbre, de vibração produzida quando estamos agachados ou deitados ou em pé, ou com a cabeça pra trás, variações exploradas e descobertas sobre o olhar atento de Barbara.

A cada movimento, a cada som produzido, uma descoberta, uma surpresa. "Eu consigo fazer isso!", ou "Eu “tenho” esse grave dentro de mim! Esse som saiu de mim? É meu?"

Assim, acionando órgãos internos e desconhecidos, seguimos nos descobrindo, ora perplexos, ora abalados, pois nossas emoções seguiam junto, também sendo acionadas produzindo sensações de bem e mal estar.

Assim, com partitura pronta, fomos explorar os espaços externos, pois, até este momento, trabalhávamos em uma sala fechada durante algumas horas com as mesmas pessoas, o que de certa forma se tornou confortável. Quando se propõe desconstruir o conforto da sala fechada, outro trabalho começa... A busca do melhor local nos diversos espaços da Casa da Cultura, ou o pior local, da acústica adequada... ensaios individuais em espaço aberto... Na Casa da Cultura tudo foi aproveitado, inserido em nossa partitura, em nosso espaço interno.

Neste exercício de explorar o espaço interno, ora conhecido, ora desconhecido e o espaço externo, conhecido, porem não ativo enquanto espaço dramático, aos poucos fomos nos apropriando deles tentando torná-los um só, tornando-os íntimos . A escadaria da casa da cultura deixou de ser uma simples escadaria. Fez parte de uma criação individual, que por alguns minutos passou a fazer parte do meu material de criação. Apropriei-me do espaço externo como parte indispensável do meu espaço interno.

Ao sair da sala atraímos olhares curiosos, com os quais não estávamos acostumados durante a oficina... Enfim, eis um primeiro desafio: confrontar-nos com o espaço aberto, ar livre, texturas, obstáculos, pessoas, objetos novos e, enfim, o confronto consigo. Todos os olhares são pra você. O palco, ou a escada, ou a porta, ou a sala, ou pátio... é seu. Medo, angustia, nervosismo, ansiedade... E um grande prazer... pelas primeiras descobertas e pelo desafio que começa aqui.

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