quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

De volta...



Pois é, séculos sem postar por aqui! Paramos as notícias desde o trabalho na estação de trem onde surgiram primeiros fragmentos que geraram algumas estruturas de texto. Mas ainda não é o texto que vai pra cena. O material apresentado no ano passado na Estação Engenheiro Vereza, sintetizava uma estapa do processo de pesquisa que nos ajuda a erguer o novo espetáculo. O trabalho desde então parte destas experiências e segue rumo à encenação do texto "Dois Amores e um Bicho" de Gustavo Ott, obra escolhida para concluir as atividades do Projeto de Formação e Montagem Teatral “O Espaço em Aberto”, este estudo sobre o trabalho do ator na apropriação de espaços “não-teatrais”, que desde 2007 tem gerado diversas atividades em espaços como praças, casas, escolas, e a antiga estação de trem, na busca por um diálogo tanto do ator no espaço, quanto do espaço como disparador da escrita cênica. Mas, tá na hora de estrear algo, né?

A família, com seus amores e rancores, é o universo da obra de Ott, montagem que comemora em 2009 os 10 anos da Cia. Experimentus. Começamos em agosto do ano passado a trabalhar com este texto erguendo a primeira cena aqui na sede do Experimentus, para a qual transferimos as atividades da companhia junto com a Cia. Andante. De lá pra cá realizamos o curta metragem "Contraponto", projeto de Marcelo F. de Souza no qual todos embarcamos, e que estreará nos próximos meses. Além disso, passamos por uma enchente, e tudo isso nos desviou um tanto do espetáculo. Estamos retomando as atividades do "Espaço em Aberto" nesta semana e queremos estrear "Dois Amores e um Bicho" no comecinho do segundo semestre deste ano. Nesta peça de Ott, um crime domiciliar vem à tona depois de vinte anos no escuro. Uma obra sobre a memória, o ódio e alguns animais.

Voltamos a falar por aqui em breve. Um abraço à todos e Feliz 2009 [sempre em tempo].

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Alguns diálogos



Maria – Passe por favor, pode entrar. A gente vai esperar bastante.


Edith – Você também veio ver o jogo? Fez muito bem. Eu não perderia por nada.


Fernando – Que bom que você veio. Encontre um bom lugar. Assim você pode ver melhor.


Maria - Sempre se espera tanto... Posso esperar aqui ao seu lado ? Gostei de você, sabe...desde o primeiro momento...


Edith - Não perdemos um jogo sabe, nós dois...


Fernando - Procure não perder nada... não, não é possível. Você pensa que está no melhor lugar. De repente algo chama sua atenção, você olha, e já não está mais ali.


Edith – O meu pai, onde está? O jogo já vai começar. Alguém viu o meu pai? Ele prometeu...


Maria – Ele não veio.(falando para a multidão) Agradeço a atenção, mas... ele não veio... Nem mesmo disse que viria, mas eu pensei que... Mina, ele não disse que vinha?


Edith - Ele disse que viria. Marcou comigo aqui.


Maria - Ele era lindo, sabem? Alto e magro, como sempre o imaginei. Quase não acreditei que

era para mim que olhava, mas sim, o seu olhar insistia e me falava. Falava comigo,

sem dizer uma palavra, mas dizendo tudo. Vocês me entendem, não?


Edith – Que história é esta que você está contando? Pensa que alguém pode acreditar nisso?


Maria - Aquele olhar, assim, em cinemascope, algo que não se pode mais esquecer. A partir dali cercou-me de todas as formas. Enviava-me flores, bilhetes, perfumes e poemas.


Edith e Fernando a aplaudem ironicamente.


Maria – (dirige-se a um espelho e repete o que dizia) Ele era lindo sabem, alto e magro, como sempre o imaginei. Quase não acreditei que era para mim que olhava, mas sim, o seu olhar insistia e me falava. Falava comigo, sem dizer uma palavra, mas dizendo tudo. Vocês me entendem, não? ...


Fernando – (dirige-se a um espelho) Não é monstruoso que esse ator, em uma ficção, em um sonho de paixão, possa forçar sua alma a sofrer com o seu próprio pensamento a ponto de empalidecer-lhe a face; lágrimas em seus olhos, o aspecto conturbado, a voz entrecortada, e todo os seus gestos adaptando-se em formas à concepção de seu espírito? E tudo isso por nada! Por Hécuba? Quem é Hécuba para ele ou ele para Hécuba, Para que a chore?


Maria – Está vendo? (apontando o espelho) Eu já disse pra ela que não serve mais, eu estou gorda, eu não tenho mais 17. Não, gorda não, eu ganhei um pouco mais de corpo... Tirei da gaveta na semana passada e cada vez serve menos. E tem aquele cheiro de mofo, sabe? Eu já pedi pra ela parar de olhar assim, mas... (para alguém da platéia) olha como ela insiste... (para Fernando) Tira ela dali!


Fernando – Ela quem?


Maria – Ali (apontando o espelho)


Fernando – Não tem nada ali


Maria – Tira ela dali!


Fernando tira o espelho da parede


Fernando – Chega! Eu vou embora. Nessa cena eu tenho que dizer que eu vou embora. Venho até esta porta, paro, penso num motivo para voltar e volto. No fundo eu sei que esta porta está trancada. Se eu quisesse sair eu sairia por aquela porta que está aberta. Eu ensaio esta cena sempre e toda vez eu tenho que ir até esta porta, parar, e saber por que que eu volto. Por que que eu volto? [Pausa] “Espera!” Eu gostava do jeito que ela pedia para esperar. Ela costumava chegar assim, entrava por ali, sentava nessa cadeira, sem rodeios, e dizia: “Espera!”. Não... era... (num tom afetuoso) “Espera!” (mais brusco) ... (Silêncio) “Espera!” (olha pra Edith) Vem aqui! Diz assim: “Espera!”


Edith – Espera!


Fernando – Não, não era assim... diz “Espera”, de um jeito doce...


Edith – Espera!


Fernando – Não, assim não, de um jeito doce mesmo... calmo


Edith – Espera...


Fernando – Não... mais doce...


Edith – Espera


Fernando – Não... doce assim, como criança, com um pouco de medo


Edith – Para com isso


Fernando – Ainda não terminei, diz “Espera Fernando”... só que de um jeito suave, infantil sabe?

Faz de novo!


Edith – Tá... “Espera Fernando”


Fernando – Por aí... agora diz isso como se você me amasse...


Edith – Chega...


Edith levanta-se.


Fernando – Diz... você entra, senta na cadeira e diz “Calma Fernando. Espera! Vai dar certo sim”.


Ela refaz o percurso. Entra, senta, cruza as pernas.


Edith – Tem certeza?


Fernando – Tenho! Era assim que ela dizia...


Edith – Não disso. Tem certeza que...


Fernando - “Calma Fernando. Espera! Vai dar certo sim”. Vai lá... doce, infantil, só mais uma vez...


Edith – Tem certeza que...


Fernando – Sim. Vai lá... só mais uma vez!


Edith – Tem certeza que vai dar certo?


Fernando – Não sei... mas diz...


terça-feira, 27 de maio de 2008

A Casa na Web

A seguir matéria publicada no site:
http://internationaldayblog.storycenter.org/?paged=2




Fundação Genésio Miranda Lins comemora o
1º dia internacional de histórias de vida com teatro e ações educativas



"Após uma programação com debates e mostras de vídeos no Projeto Educativo Papo Sério, o dia internacional de histórias de vida, comemorado pela primeira vez no dia 16 de maio, encerrou com a apresentação de teatro da Cia Experimentus, de Itajaí, em Santa Catarina, Brasil.
Como cenário, a Cia escolheu o Museu da Gente do Vale, Antiga Estação Ferroviária Engenheiro Vereza, no bairro Itaipava. O público, de em média 25 pessoas, acompanhou o espetáculo de uma maneira diferente. Sem palco e sem cadeiras, as pessoas andaram pelos ambientes do prédio, seguindo os atores e suas histórias.

A peça A casa do sótão ao porão é um trabalho que concluiu o primeiro ano de atividades do Projeto de Formação e Montagem Teatral O Espaço em Aberto.

A demonstração traz ao público pequenas cenas que envolvem histórias de vida em um processo de pesquisa e relações entre o ator e o espaço cênico. A equipe é formada pelos atores itajaieneses Jô Fornari, Marcelo F. de Souza e Sandra Knoll, o diretor Daniel Olivetto, e dramaturga Eliane Lisboa, e ainda conta com a colaboração de Barbara Biscaro e Marisa Naspolini na preparação de ator.

Memória e história são os principais elementos do trabalho realizado pela Fundação Genésio Miranda Lins. Os Programas Memória dos Bairros e Jovem Comunicador têm como um dos principais objetivos criar um acervo de histórias de vida dos moradores de Itajaí - SC, envolvendo também a comunicação."


domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dois Depoimentos sobre a Casa

"Feliz por vários motivos, e entre eles por ontem ter visto o ensaio aberto (é assim que foi chamado, Dani?) de ‘A Casa do Sótão ao Porão’, da Cia Experimentus, de Itajaí. A melhor coisa que eu vi em muito tempo. Singela mas sem medo de ser ousada. Metalingüística sem ser hermética. Respeitosa sem ser chata. Fiquei emocionado (o que é raro). Interagiram comigo durante o espetáculo (o que odeio) e curti. Inveja boa de vocês, guris (Dani, Sandra, Jô, Marcelo). E um orgulho colossal por conhecê-los. Obrigado pelo que me causaram."

Gregory Haertel
www.rosetaseespinhos.blogspot.com


"Nesse último sábado a Cia. Experimentus apresentou a demonstração teatral “A Casa – do sótão ao porão”, aqui em Itajaí. Coisa de sonho. Um ônibus pegou a gente no Centro, e com o sol se pondo, nos levou até a zona rural da cidade, para uma antiga estação ferroviária. Lá, três seres aparentemente não ligados entre si, dedilhavam suas memórias e nos faziam olhar fotos, conhecer objetos, falar. Os atores permitiam-se assustar e ficar assustados com a nossa reação. Improviso era a chave da casa. E pra quem já saturou de palco italiano, foi lindo demais da conta. A iluminação maravilhosa, que quase cega. A música clássica ecoando pela casa inteira, quando a personagem que acha que é a Maria Callas cala-se e começa a gritar de desespero no porão. Alguém solta, não se sabe da onde: “da racionalidade do sótão à irracionalidade do porão!”. Tudo reverbera dentro. Dá até para ouvir o tesourar das traças nas nossas mais latentes esperanças e solidões."

Enzo Potel
www.contodefacas.blogspot.com

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A Casa




Olá Amigos!


No próximo fim de semana apresentaremos a demonstração de processo A CASA DO SÓTÃO AO PORÃO, trabalho que conclui o primeiro ano de atividades do Projeto de Formação e Montagem Teatral 'O Espaço em Aberto'. A demonstração traz ao público pequenas cenas que esboçam o trajeto da pesquisa desenvolvida pela Cia. Experimentus no ultimo ano sobre as relações entre o ator e o espaço cênico. A equipe é formada pelos atores Jô Fornari, Marcelo F. de Souza e Sandra Knoll, o diretor Daniel Olivetto, e dramaturga Eliane Lisbôa, e conta com a colaboração de Barbara Biscaro e Marisa Naspolini na preparação de ator.


As apresentações acontecem na Antiga Estação Ferroviária Engenheiro Vereza, no bairro Itaipava, em Itajaí, no próximo sábado e domingo, dias 9 e 10 de fevereiro. A saída para o espaço de apresentação está marcada para as 20h na Casa da Cultura Dide Brandão. Como o público por sessão está limitado em 25 pessoas, haverá distribuição de senhas a partir das 19h30. A ônibus que transportará o público sai pontualmente as 20h, e tem retorno marcado para as 22h.


ENTRADA FRANCA


As apresentações serão seguidas de debates sobre o trabalho e na ocasião acontece também o lançamento do primeiro volume da Revista 'O Espaço em Aberto'.


Esperamos por você!

Abraço,

Cia. Experimentus