terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Como se faz um trajeto de pesquisa?



O projeto o Espaço em Aberto - como dizíamos no começo do trabalho no ano passado - marca um momento formal de pesquisa na Cia. Experimentus. É possível pensar que todo novo processo de montagem é também um trajeto de pesquisa, pois se trata de uma nova aventura, um caminho de novas buscas, de exploração de novos princípios e formas, uma investigação direcionada à um espetáculo. Quando falamos em "momento formal de pesquisa", estamos justamente pensando a pesquisa como um elemento cujo resultado final parece mais distante que a montagem de um texto previamente escrito, ou de uma pesquisa mais direcionada ao espetáculo como produto.

Até o momento atual a Experimentus sempre partiu de obras literárias ou fragmentos de texto. Mesmo
o espetáculo Olha pra Mim, de 2004, que não partia de uma obra prévia, foi criado a partir de um tema mais definido. O trajeto do Espaço em Aberto diz respeito tanto a uma configuração espacial ainda não explorada pela companhia, mas também a uma lacuna em relação ao texto. "Qual é o tema de nosso novo trabalho?", nos perguntávamos no início. Somente após uma pequena caminhada sobre o nada é que pudemos começar a ver temas sendo levantados nas cenas construídas a partir de questões espaciais. Nas reuniões iniciais quanto mais temas e obras se colocava sobre a mesa, mais vazia parecia a mesa. Durante o trabalho prático em sala, quanto mais temas e possibilidades se explorava, mais vazia parecia a sala de trabalho, como se soubéssemos que o que estava acontecendo como cena ainda não era exatamente um tema, um foco. O trajeto era de desenhos numa sala que continuava cada vez mais vazia.

Como se pesquisa? Como o ator pode manifestar autonomia em relação a sua pesquisa individual? Como ele propõe elementos cênicos lidando com seu depoimento pessoal? Como relacionar trabalhos de pesquisa de atores cujos resultados são solilóquios? Como se dirige um espetáculo cujo tema inexiste, cujo produto final é um pontinho no fim de um túnel que não se sabe se tem 100 metros ou 100 kilômetros? Como se escreve uma dramaturgia com o que se descobre por meio do ator? Como não prever resultados, deixando que as criações se manifestem? Se tudo pode ser material do próximo espetáculo, como sabemos o que não pode ser? Como saber se uma cena que se joga fora, por não parecer interessante como resultado, não será o estopim de uma grande descoberta pessoal do ator e do grupo?

Este projeto tem permitido rever caminhos individuais e coletivos. Tem permitido "discutir a relação" no sentido artístico e pessoal (uma vez que um grupo, por mais que se tente fugir dessa lógica, acaba se assemelhando sempre a uma família). O projeto abre possibilidades de trabalharmos com três profissionais (Barbara, Eliane e Marisa) que de distintas formas tem puxado nossos tapetes, provocando descobrir questões desconhecidas, fugir do lugar mais confortável que o grupo se encontra, estimulando que se encontre algo novo, nunca feito por nós, um esvaziamento que cada vez mais se preenche de cores, formas, sons, lógicas, memórias, e opiniões cada vez mais correlatas.

Além de se pesquisar a relação do ator com o espaço, o projeto tem como importância fudamental
abrir possibilidades de se viver uma pesquisa, a todo tempo se perguntando como se pesquisa. Se pode pesquisar sabendo que o resultado é um Hamlet, que o resultado seja Ato sem Palavras, ou Édipo Rei, enfim, se pode trabalhar com uma perspectiva mais acertada sobre o que se quer apresentar. Mas, o principal foco deste projeto é o do esvaziamento, por meio de um brainstorm de possibilidades investigadas, tanto sobre o que trazemos planejado para a sala, quanto sobre o que encontramos ao acaso. Quando se entra nesse vazio a possibilidade de se deixar tomar pelo inusitado abre novos caminhos, incertezas, e crises: "mas isso não é teatro, é terapia!", "nunca mais dirijo processo colaborativo!", "eu quero um texto pronto!", "que que eu estou fazendo no meio desta pesquisa?", "eu não sei responder o que você está perguntando", "eu estou louco ou aparece algo importante neste dia de hoje?"...

A Estação Vereza é o mais recente elemento surgido do acaso. Os temas que tem se tornado cada vez mais fortes no trabalho até aqui dizem respeito a ficção e a memória e, ao procurar uma casa antiga, ou qualquer outro espaço que possua uma memória intensa em sua arquitetura, nos deparamos como uma estação de trem desativada. Num momento entre as velhas certezas e o novo desconhecido do Experimentus uma estação de trem marca um ponto de transição. Nos dias 8, 9 e 10 de fevereiro falaremos deste novo momento, mostraremos cenas, falaremos sobre como as cenas apresentados foram construídas, conversaremos sobre os olhares de direção e dramaturgia, sobre as improvisações neste novo espaço, mas, acima de tudo, conversaremos sobre as incertezas e impressões sobre o que pode ser um projeto de pesquisa.


2 comentários:

Sandra Knoll disse...

Dias de incertezas totais... mas de descobertas!
Como a criança que pula a extensão de suas pequenas pernas na tentativa de alcançar o passo seguinte.
Somos todos essa criança.

Anônimo disse...

dia 9 estou la
dia 9 estou la

dia nove estou lá!!

Ish Alah!!